Quero ficar no teu corpo, feito tatuagem...

Eu adoro tatuagens. Tenho
8 delas (4 feitas nas minhas últimas férias) e pretendo fazer mais algumas.
Gosto da expectativa pelo desenho, da dor da agulha, da marca que ela se torna
em nosso corpo. Por isso, há dois anos decidi fazer uma borboleta. Que original,
não é? Muitas pessoas (muitas mesmo!) têm o desenho, mas queria fazer a minha
borboleta, que sairia do óbvio e não seria como todas as outras.
Talvez tenha sido o desenho (na verdade um dos poucos desenhos que eu tenho, pois a maioria das minhas tatuagens são caligrafias) que eu mais me empenhei em buscar alguém que pudesse fazer algo muito diferente das tantas borboletas que já tinha visto em outros corpos. Foi então que uma amiga minha me mostrou sua tatuagem nova, um pássaro lindo feito pela Natalie Seki. Achei belíssimos os traços e gostei muito do fato de ser uma tatuagem em aquarela. Entrei no facebook da tatuadora “desconhecida” e me apaixonei pelo trabalho dela.
Talvez tenha sido o desenho (na verdade um dos poucos desenhos que eu tenho, pois a maioria das minhas tatuagens são caligrafias) que eu mais me empenhei em buscar alguém que pudesse fazer algo muito diferente das tantas borboletas que já tinha visto em outros corpos. Foi então que uma amiga minha me mostrou sua tatuagem nova, um pássaro lindo feito pela Natalie Seki. Achei belíssimos os traços e gostei muito do fato de ser uma tatuagem em aquarela. Entrei no facebook da tatuadora “desconhecida” e me apaixonei pelo trabalho dela.
Marquei, então uma
reunião com a Natalie. Mas, antes entrei numa baita crise! Por quê? Pelo local
que eu havia escolhido para fazer a tatuagem: na linha do sutiã. À época estava
com meus mais de 100 quilos e comecei a
achar que ia ficar horrível e era melhor eu desmarcar, desistir do lugar e do
desenho! Conversei sobre isso com algumas amigas que trabalhavam comigo naquele
ano e elas falaram pra eu não desanimar, que não tinha nada a ver e que era pra
eu fazer aquilo porque era importante e porque eu queria muito. Respirei fundo
e fui!
Fui ao meu primeiro
encontro com a Natalie. Conversamos muito, ela fez várias perguntas sobre meus
gostos pra que o projeto fosse bem exclusivo. Aí veio a parte difícil: mostrar
o lugar da tattoo. Naquele momento veio o medo da Nati falar que aquilo ia
ficar horrível! Que era melhor eu mudar. Pelo contrário, ela, muito delicada,
apenas disse que tinha mais “carninha”, falou pra pormos um pouco mais pra
baixo, mas que o resultado iria ficar ótimo.
Natalie
Ufa! Não ia ficar
feio. O que me deixou mais segura ainda foi o fato da Nati trabalhar com
projeções: ela tira a foto do local e te manda as opções de desenho já
projetadas na parte do corpo escolhida pra tattoo. Assim, ela me mandou os
desenhos e entre 3 borboletas, 2 de asas abertas e 1 de asas fechadas, eu
escolhi a de asas fechadas. Sem contar que, por ela ter me mandado as
projeções, fiquei bem mais segura do resultado final. Fizemos a tattoo e fiquei
superfeliz com o resultado porque ficou superdelicada e charmosa.
Aí, passados esses 2
anos, comecei a refletir sobre a simbologia daquilo que tinha escolhido.
Naquela época eu quis fazer uma tatuagem de borboleta porque para mim
significava “ser belo”, “beleza”, “encantamento” e eu queria mostrar que a
beleza poderia estar em qualquer lugar, principalmente afirmar que ela estava
ali, no meu novo corpo mais gordo. Por isso tomei a coragem e fiz no lugar que
queria desde o início. Depois, de passar pela experiência de emagrecer
novamente, percebi que nela havia um valor novo: o da transformação. O da relação
entre a metamorfose pela qual a borboleta passa pra chegar a essa sua forma e a
que eu tive que passar.
Parei pra pensar
porque havia escolhido as asas fechadas. Porque era menor? Acho que era porque,
naquele 2014, ainda não entendia muito bem as mudanças pela qual meu corpo
havia passado ao engordar tanto. Não queria me revelar completamente e ainda
não acreditava plenamente, nem mesmo sabia qual era, na beleza do meu ser. A
tatuagem ajudou muito pra eu conseguir me afirmar naquele corpo.
Eu e Natalie estamos
agora com um novo projeto: uma borboleta de asas abertas. Se é pra haver
transformação que ela seja total. Que ela seja entregue para o mundo de asas
abertas, sem vergonha e sem encanações do corpo novo que eu tenho agora. Vou
seguir tentando superá-las a cada dia. Que tudo seja só liberdade e beleza.
Real beleza. Não a da Dove. A nossa, com a qual convivemos todos os dias e nos
é tão difícil perceber que é única e nos pertence. Como uma tatuagem, que nos
marca pra sempre a pele!
Mayra Bertazzoni é professora de Língua Portuguesa, dramaturga, escritora e atriz. Sempre foi apaixonada pela palavra e a partir dela que fez suas escolhas até hoje. Sente que ser mulher é um desafio que deve ser encarado sempre com um bom batom vermelho!
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