A cicatriz do meu rosto não te pertence. A alça do meu sutiã não te pertence. Meu canino afiado não te pertence. O meu sorriso sem jeito, também não. Não te pertencem meus desejos, você mal sabe qual é a cor que eu escolheria para o vestido de hoje.
Não te pertence meu passado nem o futuro, ainda que calculado para os próximos três dias. Não te pertence meu medo, nem a minha insegura, a você deixo relegado apenas a negação: não, não, não, não te pertence absolutamente nada do meu universo. Não te pertence essa cor de batom, nem o sapato de salto.
Não te pertencem minhas tardes cansadas, de moletom velho no sofá. Não te pertence meu cabelo colorido, nem os brancos que nasceram. Para você, absolutamente nada: nenhum dos cintos, nem meus anéis. Nada de brincos: nem os curtos, nem os longos. Não te pertence minha cintura, nem o meu perfume. Nenhum dos meus fetiches te pertence. Nem os meus sonhos. Nada do que é meu é seu.
Não, não é sua a minha alegria e não te pertence o meu desespero. A tua posse sobre minha dor acabou aqui: leva contigo todas as amarras e essas medidas mal acabadas que determinaste pra quem - que pena, não é? - não tá nada disposta a aceitar: eu.
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