Levantei cansada, como é a regra dos nossos tempos. Não dei
bom dia para quem dormia ao meu lado. De pronto, fiz café, tomei e liguei o
computador. O trabalho não me deu bom dia, o que havia mesmo era uma tela
branca esperando para ser preenchida, mas como é que a gente pode preencher uma
tela branca se a gente acorda assim, já toda preenchida
Foto: Giovanna Romaro Fotografia
É preciso se esvaziar para preencher de novo. Se uma boa
noite de sono não dá conta, é preciso um banho quente. Eu me encaminhei para o
chuveiro e, entre a porta e a água quente, havia um espelho. Olhei de canto
para mim mesma e não dei bom dia.
Marina sendo linda no espelho
Uma vida inteira, talvez, sem dar bom dia para o espelho.
Entrei no banho e enquanto a água quente escorria, eu tentava encontrar os
caminhos que do meu corpo por onde sairia meu cansaço (Da vida? Do trabalho? De
mim?). Os poros não deram conta de expulsar.
Foto: Giovanna Romaro Fotografia
Sequei as pernas, os joelhos, os braços, a alma: antes de
sair do banheiro, o espelho embaçado me convidou. Passei as mãos em cima da
mancha e de trás da névoa alguém sorriu. Nem era tão vago esse sorriso. Ele sorria para mim, não
para outro, não para quem quer que fosse que não eu e tão somente eu. Sorri de
volta. Nessa de sorrir para cá e sorrir para lá, fui tomada pelo flerte que,
não demorou, se converteu em paixão. Eu me apaixonei muito e fiquei sem saber
como sair e deixar aquele riso ali. Pedi, desculpas, disse que voltava e dei
bom dia.
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