O empoderamento para além da sexualidade

Primeira coisa a ser dita sobre o
post de hoje: ele é o ensaio de uma
ideia que ainda não tenho material teórico suficiente para elaborar plenamente.
É um texto-intuição, de algo que eu quero que mude, mas não sei como
exatamente. Algo que vejo como problemático, mas não sei dizer de que modo pode
ser mudado. Nem sei se é passível de mudança plena nessa geração. Enfim:
construamos juntas essa ideia, por favor.
Empoderamento é um processo difícil, quase nunca pleno,
dolorido. Não é do dia para noite que nos sentimos bem conosco, que somos capazes
de lidar com o próprio corpo sem neuras, sem sofrimento, em plena liberdade. Enfim,
na foto posada é fácil. Difícil é encarar o próprio corpo no espelho todos os
dias e amar tudo, de qualquer maneira. A gente vai se amando aqui e ali, um
amor que vem com uma adversativa na surdina... “mas se fosse diferente aqui”.
O empoderamento estético vem de diferentes maneiras.
Escrever é uma que me ajudou muito. Para algumas mulheres, pela amizade.
Outras, pela militância. Mas há uma falso sensação de bem estar, que pode ser uma
armadilha cruel: a autoestima via o outro, especialmente se esse outro é um
homem parceiro sexual. (não vou dar pitaco em relacionamentos amorosos entre
mulheres porque não tenho conhecimento suficiente).
Houve uma vez na minha vida que eu me apaixonei
perdidamente. E ele era lindo, absolutamente lindo. E ele fazia com que eu me
sentisse linda. Eu comecei – sinceramente – a acreditar que as minhas
gordurinhas ‘extras’ realmente eram sensuais. Eu andei nas nuvens uns meses, me
sentia tão bem comigo mesma como nunca antes. Não existe nada mais prazeroso do
que transar com alguém que nos dá a impressão de que aquilo é exatamente o que
deveria ser: que o seu corpo é o corpo realmente desejado, na forma como ele se
apresenta. Eu me adorava, fiz as pazes com os espelhos e as fotos... Mas era
tudo mentira. Eu não me amava, na verdade. Amava o que ele amava em mim. Um
dia, porém, ele me trocou por outra. Totalmente diferente de mim. E eu perdi,
por um tempo, minha base: afinal, era tudo mentira? Afinal, minha autoestima
não existia?
Demorei anos para me recuperar. Na realidade, nem sei dizer
se eu me recuperei plenamente. Ora ou outra, sempre relembro alguns elogios que
ele fazia e penso: mentira, mentira, isso é horrível em mim. Hoje, o que há de
empoderamento em mim vem de dentro. Não é pleno. Ainda tem dias que não queria
ser vista e noutros que acho que é impossível ver beleza em mim. Não sei se
alguém se sente maravilhosa 100% do tempo. Mas nos poucos ‘porcentos’ que eu me
sinto, a conquista é só minha. Não é preciso dar tesão em alguém para amar o
próprio corpo. Não deveriam ser necessários os elogios do outro para que eu me
aconchegue. PIOR: homem nenhum deveria crer que a nossa sexualidade depende da aprovação deles. Gordelícia é pejorativo. Aceitar nossas estrias se a bunda é grande, é violência, não carinho. Aliás, seu bando de merda, a gente não quer, não deve e não vai se amar mais porque vocês nos desejam. A gente faz pela gente. Hoje eu sei que chutei esse padrão de bosta. Que volta, que dói. Contra
o qual a gente segue brigando. Mas eu chutei sozinha.
(por isso que escrevi, quero muito falar o quanto sofro com
essas imagens que reproduzo abaixo)
a gente não precisa disso
sensualidade não é e nunca será compensação. e isso é violência.
(denunciei a página, mas não virou nada)
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