Ela não é para casar

Casamento é contrato: o amor pode
ou não estar presente. Casar, aqui no sentido de vincular-se socialmente alguém
– seja pela legitimação jurídica ou religiosa – é algo que pressupõe aprovação.
Ainda que você não dê a mínima atenção ao resto do mundo; ao menos da sua mãe
você espera aprovação.
Ao contrário do que parece, esse
não é um texto sobre casamento, mas sobre dicotomia. E sobre uma dicotomia
específica: mulher para transar/sair/pegar e mulher para namorar/casar/ter um
compromisso socialmente assumido.
Essa dicotomia, mais antiga que o
nascimento das religiões monoteístas, ainda não caiu – por mais absurdo que
seja - e é cegamente alimentado por diferentes mulheres que sofrem do machismo
dessa dicotomia das mais variadas formas.
Eu poderia explicar o movimento
patriarcal que construiu essa dicotomia, mas, hoje, meu foco é outro: como a
construção estética é material que alimenta a manutenção dessa dicotomia
absolutamente violenta.
Não ser um padrão estético
eurocêntrico significa ser fora do padrão; isto é: exclui-se desse padrão as
mulheres negras, de traços orientais (lato
sensu) e as latinas. Elas podem ser bonitas, mas elas não são mulheres para
casar (aprovadas socialmente): e o homem que se envolve com elas é praticamente
um revolucionário (mas não é, só não é babaca)
A sensualidade da mulata; o
sexy-appeal da latinoamericana; a sedução da árabe podem ser elogiosas, mas –
em sua maioria massacrante – não são. A maioria das vezes que a
hiperssexualização é atribuída essas mulheres estamos, mais um pouco,
padronizando mulheres. Igual fazíamos com a mucama nos piores tempos da
escravidão.
“Adoro comer uma gordelícia”,
disse aquele que fingiu que não conhecia a mulher gorda no dia seguinte.
“Transar com mulata é tudo de
bom”, relatou aquele que trai a namorada ruiva de olhos azuis.
“Pegar japa é fetiche de mangá”,
afirmou aquele que não sabe separar realidade de ficção.
Mulheres com PhD em física
quântica também transam no elevador. Ser gorda ou negra não delimita
sexualidade, isso é um produto cultural. Ser virgem não constrói o caráter (nem
o destrói – é absolutamente indiferente). Gostar de vibrador, de calcinha
comestível ou de transar no escuro não torna ninguém menos educada, gentil,
solidária e fiel.
Existe uma hierarquia de
informações que precisamos ter em mente:
1. A
aparência de alguém em NADA influi seu comportamento sexual
2. O
comportamento sexual (se não criminoso, obviamente) em nada influi o caráter de
alguém
3. Misturar
a aparência e o comportamento sexual de alguém com a sua existência em âmbito
social é absurdo, inadequado e violento
É por isso que eu tendo a recusar
associações entre gordura e simpatia, gordura e bom humor. Eu não sou engraçada
porque sou gorda. Eu posso ser engraçada e gorda. Eu não sou
sensual porque sou negra, eu sou sensual e sou negra. É uma
questão de rever as conjunções utilizadas. E o cérebro também!
De tudo se conclui uma única
verdade, independente do padrão: reduzir as pessoas a meras consequências da
sua aparência faz de você um ser humano DESPREZÍVEL (mas educável. Por isso eu
não desisto!)
As fotos que ilustram esse post são da Giovanna Romaro Fotografia;
estão no ensaio Mulheres de Fel, que busca retratar a relação entre melhores amigas.
Essa fotógrafa maravilhosa vai expor outro projeto de seu trabalho com mulheres a partir do dia 7 de outubro, na Casa do Lago da Unicamp. Quem puder, vá! Eu recomendo.
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Somos Marcella Rosa e Marina Sena, parceiras no blog, na luta e na vontade de mudar - nem que seja um pouquinho - o mundo. O Maggníficas é um pouco de nós, porque aqui tem moda democrática, empoderamento feminino e amor próprio. Nosso foco é a sororidade e a vivência plena de todos os corpos, porque acreditamos que somos todas maggníficas e que todo mundo pode tudo!
maggnificas@gmail.com
Adoro seus tapas na cara da sociedade! Pena que a maioria dos que deveriam ler, não lerão :(
ResponderExcluirBjs,
Karina