A moda também é libertadora

Já contei no Blog outras vezes
que em uma parte de minha adolescência, eu me vestia somente com roupas pretas
e largas, em um tipo de defesa para esconder meu corpo. Eu não queria ouvir comentários
que pudessem me deixar magoada e por isso já me “blindava” antes que isso pudesse acontecer. Eu não queria ninguém apontando para mim dizendo o quanto eu era
gorda.
Hoje sei que eu era uma
adolescente fora dos padrões, a maior entre minhas amigas da escola, mas eu não
era exatamente gorda. Mas era assim que eu me via, apesar de os ossinhos do
quadril serem aparentes. Eu só queria me esconder, e tentava enganar a mim
mesma dentro de camisetas pretas de bandas de rock e bermudas largas
masculinas. Sempre andava com o cabelo preso em um baixo rabo de cavalo, não
queria nada diferente. Não queria que me olhassem.
Quando adolescente eu tive
apostilas de moda e cadernos onde desenhava manequins, mas hoje penso que aquilo era
uma fuga de quem eu achava que era. Moda era algo que eu jamais me interessaria
verdadeiramente. E hoje, depois de tanta coisa e sendo uma mulher gorda, parei para pensar em tudo que
mudou.
Tudo mudou principalmente quando
descobri o “plus size”. Foi incrível perceber que é possível. E quando
me tornei uma maggnífica, não fazia ideia do quanto minha vida mudaria. Eu aprendi
que existem pessoas diferentes com diferentes tipos de corpos, diferentes tipos
de gostos e de estilos, e aprendi a gostar. Aprendi a amar a diversidade.
Mas o mais incrível é perceber o
quanto tudo mudou depois que comecei a fazer escolhas da vida baseadas no meu gosto
pessoal, não importando se faz sentido, ou se isso combina com aquilo.
Tudo mudou quando comecei a me olhar com outros olhos, quando comecei a me
enxergar como uma pessoa com possibilidades. Tudo mudou quando comecei a me
aceitar.
As coisas mudaram não só com
relação a mim mesma, em uma relação interna, mas sobre o que vem de dentro pra
fora também. Eu me julgava e queria tanto me esconder que não permitia também, inconscientemente, que outras pessoas gordas fizessem o contrário. Hoje sei que podemos - e devemos - ser mais
naturais, mais flexíveis, mais empáticos. Quando vejo alguém usando algo que eu
não gosto ou não usaria, eu defendo a escolha da pessoa de poder usar. Depois
que comecei a me aceitar passei a aceitar as escolhas dos outros também.
A moda é um instrumento, símbolo
de personalidade, de expressão. É muito bacana conhecer as tendências e tudo
que envolve esse universo, e mesmo assim não se prender a seguir regras. É ótimo poder usar o que quiser. No meu armário só haviam roupas de cores escuras, e hoje
eu tenho o maior orgulho de ser esse arco-íris ambulante que vos fala. Ainda tenho roupas de
cores escuras, mas quando as uso é porque eu quero, não por achar que não tenho
outra opção. Eu amo as cores, misturá-las, combiná-las, descombiná-las!
Eu gosto de usar coisas que estão
na moda, gosto de experimentar, inovar, de seguir meu estilo. Mas também gosto de
usar o que não está na moda, se for do meu agrado. Não importa se “engorda”, se acham feio, se não é adequado. Para mim é. Isso
é libertador. E moda para mim é liberdade.
Fotos: The Adipositivity Project
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Somos Marcella Rosa e Marina Sena, parceiras no blog, na luta e na vontade de mudar - nem que seja um pouquinho - o mundo. O Maggníficas é um pouco de nós, porque aqui tem moda democrática, empoderamento feminino e amor próprio. Nosso foco é a sororidade e a vivência plena de todos os corpos, porque acreditamos que somos todas maggníficas e que todo mundo pode tudo!
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