O vestido é lindo. Por isso, ele não serve pra você.

Tenho 41 anos e tenho um corpo que, entre modas, caberia
numa calça 40 ou 42. Já tive todos os
corpos possíveis e na maioria deles estava "normal", vejo
hoje pelas fotos. Mas sempre me achava gorda, feia, desforme.
Eu nasci gorda e, de quatro irmãos, me destacava pelo peso.
Sempre me senti incomodada e ocupando espaço demais. Um espaço que, sentia, não
podia ser meu. Nas fotos, sentia vergonha de me sobressair. Ao invés de achar
interessante e divertida a natureza dos corpos, eu achava feio, inadequado, errado.
E não é pra menos. Minha mãe, que tinha problemas ligados a
compulsão, via em mim aquilo que ela odiava em si: o a mais, a concretização
do que a sua "falta de limites" causava: a gordura, já que ela era
magra. Minha mãe já faleceu, eu a amo e tenho (muito) respeito pela sua
história. E a compreendo, mas não posso
negar o mal que me causou.
Me recordo de, muito criança, ter ganhado da minha mãe um
vestido lindo: vermelho, comprido, de alças, com dois bolsos grandes e uma flor
amarela. Era simplesmente encantador. Minha mãe agachou-se, eu me lembro como
se fosse hoje, e me disse: É lindo, não? Pois você só vai usar esse vestido
quando emagrecer. Qualquer desavisado, diria: um incentivo. Só que não. Minha
mãe apenas havia deixado claro aquilo que todo mundo achava: Vestidos
maravilhosos merecem pessoas magras. Gordas, não.
Não emagreci e, ainda assim, usei o vestido que era
larguinho e cabia nas mais cheinhas. Eu o usei na escola e enquanto meus irmãos
jogavam bola, me lembro de ter ficado sentada num canto, triste e incomodada.
Naquele momento não soube nomear o que sentia. Hoje, entendo bem: eu era gorda
e, portanto, feia. Não merecia o vestido. Não merecia o bonito. Não merecia o
melhor.
Aline é uma apaixonada pela risada e pelas letras. Com filhos, com sonhos, ainda acredita que, mesmo em tempos de Facebook, dizer a verdade ainda é muito mais legal.
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Somos Marcella Rosa e Marina Sena, parceiras no blog, na luta e na vontade de mudar - nem que seja um pouquinho - o mundo. O Maggníficas é um pouco de nós, porque aqui tem moda democrática, empoderamento feminino e amor próprio. Nosso foco é a sororidade e a vivência plena de todos os corpos, porque acreditamos que somos todas maggníficas e que todo mundo pode tudo!
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